domingo, 17 de junho de 2018

Pra quem Beyoncé e Jay-Z fizeram "EVERYTHING IS LOVE"?


"Este álbum é para você, meu fã". Esta frase e diversas variações da mesma carimbam a abertura de encartes de álbuns de música pop há décadas e décadas. Quando Beyoncé lançou um disco novo, EVERYTHING IS LOVE, a expectativa era um pop aditivado como o que descobrimos em BEYONCÉ, lá em 2014, e vimos amadurecer em LEMONADE, em 2016. A verdade é que Beyoncé e Jay-Z não fizeram um álbum pop e deixaram bem claro: esse disco não é feito para um tipo de fã específico.

t> Brinquei com um amigo que, nesse disco, Beyoncé guardou o pop em um baú e abriu os ouvidos para novos sons. A lista de produtores vai de Pharrell a nomes mais desconhecidos pelas massas, como Dave Sistek e Cool & Dre - além do casal Carter, obviamente. Com este conjunto ilustre e renomado nos backstages da indústria, EVERYTHING IS LOVE não é um álbum para ser ouvido a qualquer momento. Trata-se de uma declaração aos olhos e ouvidos sedentos por novidades de um casal cujo relacionamento esteve no topo da lista de mais observados do mundo nos últimos anos. "Como que ela perdoou a traição?", "ainda foram ter mais filhos, como será que tá sendo isso?", "será que eles estão bem?".

A resposta é que estão mais do que bem: estão conscientes. A faixa inicial revela um casal no verão do relacionamento. Daí em diante, quaisquer dúvidas sobre o casamento são respondidas diretamente da fonte, da melhor forma que poderiam nos apresentar. Pode-se dizer que EVERYTHING IS LOVE é o fim de uma trilogia que vasculhou a vida do casal, que começou com LEMONADE, 4:44 e encerra neste capítulo.

O romance entre os dois, porém, não é o único foco do disco. O casal se estabelece como magnatas não apenas da música, mas como da cultural ocidental contemporânea. No único clipe disponível (até agora), APESHIT, os Carter se apresentam dentro do museu do Louvre como verdadeiras obras primas - enquanto apontam como a maioria das peças expostas no local exaltam a cultura branca e os negros, quando presentes, ocupam lugar secundário e submisso.

APESHIT é, na verdade, o mote do disco. Na faixa, que apresenta Beyoncé como rapper full-time, o casal fala sobre diversos rumores, como a briga com Kanye West (sim, eles não são mais amigos), com a academia dos Grammys - em que Jay-Z menciona o fato de não ter ganhado nenhum dos oito prêmios aos quais estava indicado - e sobre a possibilidade de ter negado uma apresentação no Super Bowl.



A lista de intrigas/revelações estão salteadas por outras faixas também, como BOSS, em que o Beyoncé aponta que suas gerações futuras já estão ricas, e que isso é um monte de crianças negras na lista da Forbes. Outras "cutucadas" estão presentes também em NICE. Beyoncé finalmente fala sobre o fato de manter parte da discografia trancada na plataforma Tidal. "Se eu me importasse com números, eu já teria colocado Lemonade no Spotify.

Enquanto o casal relembra em 713 o início do namoro e da construção do império que levantaram, a música que encerra o disco, LOVEHAPPY, é definitivamente a mais divertida. Beyoncé e Jay-Z passam a faixa trocando provocações sobre a traição e sobre a exposição da crise no casamento.

Mesmo correndo o risco de parecer egocêntrico, contraditório e um fracasso de vendas (as previsões de streaming não são boas até agora, visto que o material está disponível exclusivamente no Tidal), EVERYTHING IS LOVE é um dos álbuns mais importantes atualmente. Além de apresentar um casal criativo e extremamente talentoso musicalmente, trata-se de um testamento à cultura negra norte-americana, com representatividade e histórias reais. Na tentativa de fazer um disco terapêutico e introspectivo, os Carter acabaram por entregar uma obra prima para milhões de pessoas não representadas no mundo inteiro.

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