segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Lady GaGa no Super Bowl e a importância de aceitar “o diferente”


Conheci Lady GaGa em 2009, logo depois que o YouTube começou a colocar anúncios antes de vídeos. O meu objetivo naquela visita ao novo e excitante site que permitia fazer upload e assistir vídeos via streaming (que inovador!) era um clipe das Pussycat Dolls. Eis que naqueles dez segundos antes do vídeo ter início, ouço um teclado cheio de sintetizadores e vejo uma baixinha loira segurando uma disco ball enquanto anunciava: "just dance, gonna be ok”. Foi paixão à primeira vista e ouvida. Stefani Joanne Angelina Germanotta é desses artistas cuja apreciação é imposta por meio de diversos sentidos - assim como Michael Jackson, Madonna e Prince. De lá pra cá, a cantora se uniu neste domingo (6) ao grupo de imortais que se apresentaram no palco do Super Bowl. A plataforma - assistida mundialmente todos os anos por milhões de pessoas - é o local perfeito para divulgar arte, atrair públicos para turnês e compradores de discos. É com entusiasmo que acompanhei GaGa conquistar todos estes objetivos e mais: tornar-se única no meio de ícones musicais. 


Posso enumerar aqui todas os hits cantados (sim, em meio a tantos shows do intervalo do Super Bowl levados à base de vocais pré-gravados, GaGa optou por cantar e tocar ao vivo enquanto dançava), mas esses são meros passos que me levam ao objetivo deste texto. O que venho discutir com quem porventura se deparar com esse devaneio é o impacto sociopolítico causado pela performance. 

O objetivo de GaGa pareceu sempre ser o de passar mensagens muito claras e diretas. Se no primeiro momento, os discos The Fame e The Fame Monster visavam te fazer dançar, amar apaixonada e visceralmente, Born This Way veio com a disseminação do que é auto-aceitação. O tão polêmico ARTPOP trouxe música eletrônica como um retrato da vida da cantora, em que a fama se colidia com autoconhecimento e traumas do passado, tudo culminando em uma explosão de cores, influências e sons. A questão é que ela nunca escondeu quem era, de forma que GaGa deixou seu coração no palco do Super Bowl. Enquanto muitos esperavam uma explícita crítica à eleição de Donald Trump, por exemplo, ela tomou o maior encontro esportivo dos norte-americanos e cantou sobre diversidade, aceitação e tolerância - características que vão diretamente contra as decisões e opiniões do novo líder do país.

 É também interessante falarmos sobre como uma mensagem de tolerância é deturpada por públicos que são beneficiados por ela mesma. Na Internet - um ecossistema bizarro e ditatorialmente democrático - cada um tem sua voz com volume suficiente para ser ouvido. Comparações com outros artistas, piadas com o “sobrepeso" da cantora e as baixas vendas dos últimos dois álbuns se confundiam com os aplausos. Se antes, o admirável era apreciar quem fazia arte, hoje, o ideal é encontrar falhas, descreditar o trabalho alheio e diminuir a importância de atos politizados. Se gosto de um artista, longe de mim aceitar que existe outro que seja tão capacitado e passível de admiração! 
 É óbvio que opiniões divergentes sempre vão existir. São as diferenças que nos impulsionam a sermos melhores, procurarmos acordos e melhor: a arte exerce papel extremamente ativo e modificador nessa dinâmica. O que me incomoda é a falta de capacidade de “dar o braço a torcer”, além da sede de fazer com que a sua opinião seja mais forte do que a minha. 

O fato de alguém subir ao palco não diminui a presença do seu artista favorito anos atrás. Aprecie e, se não gostou, tudo bem! Olha a beleza do livre arbítrio! Vamos aceitar opiniões divergentes com, no mínimo, respeito e compreensão mútuos de que podemos divergir. 

A presença de GaGa com um espetáculo brilhante como o deste ano é mais importante do que podemos imaginar. Ver uma artista “renascer das cinzas” às que foi reduzida pela mídia (cujos objetivos e modos de operar já são conhecidos e não precisam ser explicados aqui) é refrescante. Principalmente agora, em que muitos passam por um momento de opressão e falta de perspectiva. 

Obrigado, GaGa, por nos trazer de volta aos momentos divertidos, por conversar conosco sobre a necessidade de haver tolerância e nos empoderar com a mensagem que é sempre possível recomeçar. 

3 comentários:

  1. Seu texto é inspirador. Parabéns e continue com essa luz.

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  2. Gaguinha Maravilhosa. so acho que faltou um PLUS para dar aquele Boom sabe? Perfect Illusion talvez? não sei.

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    1. Menino,mais plus do que saltar de um lado pro outro, cantar number ones e tudo ao vivo? rs COncordo que precisávamos de mais uma música do Joanne <3

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