sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

SweetSexySavage: o glamour marginalizado de Kehlani


Estamos em um momento musical em que o empoderamento feminino tem sido abordado em suas mais diversas variações. Kehlani - um dos mais novos nomes do R&B - traz tudo o que significa ser uma mulher que cresceu nos bairros marginalizados de Oakland no disco de estreia, "SweetSexySavage". Mesmo com momentos monótonos, o álbum - que estreou em terceiro lugar na Billboard - é uma compilação de músicas e poemas que abordam o autoconhecimento e a vontade de conhecer novos ares sem deixar a sua base de lado.

O disco tem início com um poema visto pelo prisma de quem reconhece o ego e os próprios defeitos, vendo poder e força no caráter. A música começa a tomar conta em “Keep On”, com R&B digno da época de ouro da Mariah Carey em "Butterfly". Em seguida, “Distraction" (um dos primeiros singles) é um reflexo do tipo de faixa que Ciara faria hoje em dia, se esta focasse na produção e ousadia musical. A esse ponto do álbum, você já é capaz de identificar a voz de Kehlani aonde for - diferente de outros nomes mais fracos do gênero, como Tinashe.

“CRZY" é um dos mais altos pontos do disco, com um “gueto glamuroso” tanto na música quando no material audiovisual (veja abaixo). É nessa faixa que Kehlani brilha com autoconfiança, em frases como “If I’m gonna be a bitch, Imma be a bad one”. A vibe segue em “Personal” (em que ela vem como sua própria rapper, num estilo similar ao da FKA Twigs), “Get Like” e “In My Feelings” (extremamente divertida, com toques de música eletrônica e hiphop). 
Existem algumas faixas “fillers”, que estão ali para mostrar um lado mais suave da artista, mas que estão fortemente ligadas a clichês (Undercover, Everything Is Yours e Advice). “Do U Dirty” fica em cima do muro, com letras que remetem a um relacionamento complicado, mas com uma produção no mínimo interessante. Esse sentimento de “demo" aparece também em “Hold Me By The Hand”, no bom sentido, com uma música concentrada na rouquidão doce da voz da jovem. 

A última faixa do disco, “Gangsta”, fez parte da trilha sonora do Blockbuster “Esquadrão Suicida”, cujo estilo mais escuro e sóbrio poderia ter se “repetido" mais durante o álbum - o que daria mais maturidade ao disco.
SweetSexySavage é um ótimo álbum de estreia, mas tem faixas que poderiam ser deletadas para deixar o conjunto mais coeso - da mesma forma que aconteceu com o primeiro álbum da Kiesza, “Sound Of A Woman”. Acho que existe uma pressa na hora de lançar discos de artistas que fazem sucesso logo nos primeiros singles, deixando o material não tão bem polido como poderia ser. Assim como no caso da Kiesza, tenho grandes esperanças para o futuro musical de Kehlani. Basta pedir que as moças tenham mais tempo para produzir materiais mais profundos e musicalmente ousados. 


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